O dia 3 de julho é lembrado como o Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, data referente à primeira lei do Brasil em combate ao racismo desde 1951. 

Uma data que viabiliza não só uma luta de muitos anos, mas que busca promover ações através de movimentos sociais que defendem e lutam lado a lado por um mundo cada vez mais justo e igualitário.

Racismo nas empresas, como combater?
A luta contra o racismo ainda faz parte da nossa sociedade. Saiba como ajudar!

Com isso em mente, é importante entender:

  • O contexto histórico do racismo;
  • Quando surgiu a lei do racismo no Brasil;
  • O que é racismo;
  • A responsabilidade social das empresas;
  • O que é racismo institucional;
  • 5 dicas de como RH pode trabalhar o antirracismo na empresa;
  • Cases de sucesso.

Um giro pela história que colocou o fim na escravidão 

A luta contra o racismo não vem dos dias de hoje, mas sim de muito tempo na história do Brasil, desde a sua formação. Por isso, antes de explicarmos sobre o que é racismo, a lei que pune o agressor e entre outros assuntos relacionados ao Dia Nacional de Combate à Discriminação Racial, é preciso entender como tudo começou.

Entre 1501 e 1870, mais de 12,5 milhões de africanos foram vítimas de sequestro, vendidos como escravos e levados para o continente americano. Diante deste cenário, 1 em cada 4 pessoas foram enviadas para as terras brasileiras, um número equivalente a 4,8 milhões até a metade do século XIX.

Além do ato cruel de escravizar, as condições de transporte eram precárias, o que levou a morte de mais de 1,8% de pessoas, totalizando mais de 20%. Doenças como varíola, sarampo e sífilis foram algumas das complicações responsáveis pelo falecimento de muitos — sem contar os castigos físicos, tendo em vista que muitos comerciantes eram cruéis e agressivos. Com isso, a expectativa de vida chegava a uma média de 25 anos.

Foi por meio da Lei Eusébio de Queiros e da Lei Áurea que a escravidão acabou. Saiba mais!

Conforme o Livro “Escravidão”, do jornalista Laurentino Gomes, muitas pessoas pularam do barco na esperança de ter a liberdade, o que levou a óbito muitas delas. Aos que conseguiram sobreviver, devido à falta de recursos, muitos ficaram desnutridos, doentes e, consequentemente, cegos por inúmeras infecções oculares, levando à morte em poucos meses.

No ano de 1530, foi registrado o primeiro desembarque oficial de escravos, ano em que a produção de cana-de-açúcar começou a ganhar destaque no país. No entanto, o maior registro do tráfico negreiro no Brasil foi de 1800 a 1850, onde a maioria das pessoas que desembarcaram eram originários de países como: Angola, Moçambique, Congo, entre outros.

Na segunda metade do século XIX, o país passou a ter um aumento da população negra, o que levou à formação de quilombos, aumentando a luta pela liberdade. Com isso em mente, por pressão de alguns países, como a Inglaterra, foi pedido o fim da escravidão. 

O Brasil foi considerado o país mais escravista do hemisfério ocidental, sendo o último a acabar com o tráfico de pessoas, o que só foi possível devido à Lei Eusébio de Queirós de 1850, que instituiu medidas para repreender qualquer tipo de contrabando de grupos africanos. Por meio da Princesa Isabel, no dia 13 de maio de 1888, foi assinado a Lei Áurea, responsável por abolir a escravidão.

Quando surgiu a lei do racismo no Brasil?

No ano de 1950, Katherine Dunham, coreógrafa, dançarina e ativista social americana, fazia turnê pelo país. Na noite de terça-feira, no dia 11 de julho, ela fez a sua primeira estreia no Teatro Municipal de São Paulo, momento em que aproveitou do seu tempo livre para fazer uma denúncia aos jornalistas — presentes no local para cobrir o espetáculo. 

Revoltada com o que havia acontecido, Katherine relatou que, alguns dias antes da sua apresentação, o gerente do hotel de luxo Esplanada se recusou a hospedá-la após descobrir que era uma mulher negra. 

O caso chocou inúmeras pessoas, empresas e partidos políticos, pois, até então, o país se denominava como um ótimo exemplo de democracia racial, o que não era verdade. Por outro lado, de todas as reações voltadas para o caso da artista, a que ganhou maior destaque foi a do deputado Afonso Arinos (UDN-MG). 

Na manhã do dia 17 de julho, uma segunda-feira, Arinos apresentou à Câmara dos Deputados um projeto de lei escrito por ele para transformar e punir qualquer tipo de atitude racista em contravenção penal, ou seja, podendo ser penalizada com prisão, multa ou ambas. 

A proposta de lei também proibiu qualquer tipo de preconceito em relação à cor da pele em hospedagem, entrada em comércio, matrícula em escola e qualquer empresa pública ou privada que se recusasse a oferecer os seus serviços de contratação, como, por exemplo, os bancos.

Por fim, no dia 3 de julho de 1951, após um ano do ocorrido racista, o pedido foi aceito e ganhou a assinatura do presidente Getúlio Vargas, apelidado de Lei Afonso Arinos.

Racismo: o que é?

Será que você sabe o que é racismo? Algumas pessoas classificam a palavra “racismo” como uma forma de se referir a outra de maneira preconceituosa, mas é importante entender que existem diferenças entre esses termos e porquê estão ligadas. 

A palavra preconceito se dá como significado sobre algo que nós não conhecemos, como, por exemplo, ao experimentar um alimento novo ou recusar o diferente. Em relação à questão social, pode ser caracterizada qualquer categoria de prejulgamento.

Ainda sobre as relações sociais, o preconceito pode acontecer devido à sexualidade, gênero, condição física e, por último, raça, definida pela cor da pele. Sendo assim, quando o preconceito está ligado a essa característica, podemos chamar de racismo.

Portanto, o racismo é qualquer tipo de preconceito étnico, um pensamento e/ou atitudes pejorativas contra uma etnia ou grupo social.

Alô, empresa! Qual é a sua responsabilidade social em ações antirracistas?

Grupo trabalhando com ações contra o racismo
A responsabilidade social da empresa em ações antirracistas é o primeiro passo para a inclusão. Confira! 

Atualmente, se posicionar em questões sociais tão importantes, como o racismo, vai muito além das mídias sociais da empresa. A responsabilidade social deve fazer parte da cultura organizacional e de todos os setores de qualquer pequena, média ou grande organização. 

Segundo uma pesquisa realizada pelo Instituto Ethos, divulgado em reportagem pelo site Estado de Minas, o número de colaboradores negros são de 57% a 58% em cargos de aprendizes e trainees. No entanto, apenas 6,3% ocupam o cargo de gerência. Desse modo, é possível entender que quanto maior o cargo e a responsabilidade, menor a participação de pessoas negras.

Além disso, quando se trata de mulheres negras, os dados são ainda mais preocupantes. Apenas 1,6% das posições gerenciais e 0,4% do quadro executivo é composto por estas profissionais.

Por isso, além de oferecer bons cargos e salários, as empresas têm o papel de não só combater o racismo, mas apoiar a luta e promover ações antirracistas para construir um ambiente de trabalho e um mundo cada vez mais igualitário e justo. 

O primeiro passo para transformar a sua empresa está em: contratar, desenvolver e promover diariamente as pessoas negras. Depois, transformar o ambiente cada vez mais inclusivo. Conforme uma pesquisa feita pelo Indeed e Instituto Guetto, cerca de 60% dos entrevistados já se sentiram discriminados devido à sua cor de pele no ambiente corporativo. 

Além disso, segundo a pesquisa do Indeed e Instituto Guetto, cerca de 47,8% dos profissionais negros não se sentem pertencentes às empresas para qual trabalham devido à etnia, o que pode gerar também a sensação de incapacidade profissional. 

Desse modo, é importante ter em mente que a responsabilidade social vai além de promover um bom salário, mas significa dar mais visibilidade e incentivo para que todas as pessoas — independente da sua etnia ou gênero — possam fazer parte da empresa. 

Quando unidas, empresas e colaboradores, é possível lutar contra qualquer discriminação e/ou preconceito racial perante a comunidade negra.

Entenda o que é racismo institucional

O racismo institucional é caracterizado quando uma empresa, grupo e/ou instituição pública se recusa a disponibilizar qualquer tipo de serviço para uma pessoa pela sua cor, cultura ou etnia. 

Além disso, pode ser classificado como racismo institucional algumas falas, hábitos e situações que, em muitos casos, acabam surgindo de forma direta ou indireta, promovendo o preconceito racial.

Ficou com dúvida de como o racismo institucional acontece? Muitas vezes nem nos damos conta desse tipo de preconceito, pois já é algo camuflado perante a sociedade, por isso é importante prestar bastante atenção. 

Vamos de exemplo? É muito comum — e não deveria ser — a abordagem da equipe de segurança de uma organização ser diferente com a chegada de funcionário novo por causa da cor da pele. Além disso, algumas frases que podem parecer inofensivas, mas são extremamente racistas: 

  • “Você foi promovido. Que inveja branca…”: não use a cor para promover o que é bom e/ou definir o que é ruim;
  • “Que serviço de preto!”: além de soar como algo ruim, representa que aquele trabalho não está sendo bem executado. Ou seja, é uma frase muito racista, pois está reduzindo as habilidades de uma pessoa pela cor;
  • “Esse funcionário é meia-tigela”: na época da escravidão, quando a pessoa não concluía as suas tarefas, ela recebia algumas punições, como metade de comida no prato e o apelido como motivo de piada. 

5 ações antirracistas para colocar em prática na sua empresa

Negros dentro das empresas combatendo o racismo
Veja algumas ações que a sua empresa pode fazer para combater o racismo!

Que tal promover ações antirracistas na sua empresa? Esse é o seu momento de promover igualdade e diversidade na sua organização. Vamos lá?

1 – Pesquise sobre o assunto 

O primeiro passo para implementar ações antirracistas na sua empresa é conhecer mais sobre o assunto, entender os impactos do racismo no dia a dia e o que dizem os estudiosos e ativistas da área. Se for possível, converse com pessoas do movimento para ouvir o ponto de vista delas.

No dia da mulher, a TotalPass fez uma roda de conversa com mulheres incríveis, no qual uma das participantes era uma importante voz neste movimento, a Negra Magda. Veja o relato dela no nosso vídeo:

2 – Defina metas e analise os dados 

Analise os dados da sua organização para identificar as características comportamentais, demográficas e sociais dos seus colaboradores. A partir disso, é possível criar planos de carreira e incentivar programas de liderança dentro da sua empresa.

Além disso, você pode definir metas e prazos para a inclusão de pessoas negras na instituição. Converse com os gestores e estabeleça alguns planos de ação.

3 – Recrutamento 

É já na contratação de novos colaboradores que começa a criação de uma cultura organizacional antirracista. Por isso, já na vaga da descrição de emprego, você pode tomar alguns cuidados para não excluir pessoas negras do processo.

4 – Reconheça o racismo como um problema real e repreenda-o 

O primeiro passo para combater o racismo é aceitar que ele é um problema real. Por isso, é importante compreender que as pessoas possuem vivências diferentes e que possuir uma cor ou um gênero diferente do que se considera o “padrão” pode trazer uma história de dor e sofrimento para ela.

Além disso, caso alguma atitude racista aconteça dentro da sua equipe, é muito importante que a empresa tome partido para defender a vítima e mostrar para todos que este tipo de atitude não é tolerado e que existem consequências para isto, afinal, racismo é crime!

5 – Promova ações de conscientização dentro da empresa 

Promover ações de conscientização dentro da empresa é um passo muito importante para mudar a estrutura organizacional e tornar a sociedade mais igualitária.

Você pode promover palestras ligadas ao movimento negro para os seus colaboradores, além de trazer informações importantes sobre a luta dessas pessoas por meio do mural da empresa ou o grupo em que todos costumam falar.

Cases de sucesso antirracistas no ambiente de trabalho 

Algumas empresas se posicionaram a favor da luta antirracista, bem como demonstram em ações no dia a dia para promover um assunto tão sério e importante em suas organizações.

  • Magazine Luiza 

A empresa Magazine Luíza foi responsável por promover inúmeros processos seletivos exclusivos para pessoas negras por meio do seu programa de trainees. Isso só comprova a importância de abraçar profissionais que, devido ao preconceito, acabam sendo sub-representados em muitas empresas. 

Além disso, a empresa entende a dor da população brasileira, tendo em vista que a maior parte é representada por pessoas das classes C, D e E, sendo a maioria negras. Com isso, busca promover níveis hierárquicos e salários mais altos, tornando-se uma boa ação na promoção do bem-estar e da ascensão econômica dessas famílias.

  • Avon

A empresa de cosméticos Avon, pertencente ao grupo Natura&Co, lançou um plano de ação que visa o compromisso antirracista. Além disso, tem como objetivo promover mais projetos em relação à representatividade e do empoderamento de pessoas negras, independente do seu gênero e/ou orientação sexual, isso na empresa — para os colaboradores — e fora da organização. 

Entre seus principais objetivos e ações, podemos listar o aumento da empregabilidade de pessoas negras e promoções em cargos de liderança, bem como oferecer produtos mais inclusivos para representar a diversidade e a beleza brasileira para dar voz a inúmeras mulheres, independente da sua cor.
Ao combatermos pequenas ações do dia a dia, é possível chegarmos mais perto de uma sociedade igualitária sem racismo. A sua empresa pode (e deve) fazer parte deste processo de transformação. Afinal, empresas são um pilar dentro da estrutura social, então elas têm responsabilidades junto à sociedade.